segunda-feira, 15 de junho de 2009

Eu tive câncer de mama

█ Por quê será que as vezes nos sentimos donos da vida e outras vezes dá vontade de desistir de tudo e dormir eternamente?
Acredito não ser falta de fé e esperanças e sim cansaço de ter nossa vida manipulada pelos conhecedores da saúde...
e pressa de que um dia tudo isso termine...... e que esse sofrimento não tenha sido em vão█

"COMO FILHA DE UMA SOBREVIVENTE DE CÂNCER DE MAMA, CONHECIA MEU RISCO PESSOAL E ME TORNEI MAIS ATENTA E EMPENHADA NO CONTROLE, MAS AGORA ENFRENTANDO MEU PRÓPRIO DIAGNÓSTICO ESTOU EM PÂNICO"


Enfrentei a questão do câncer em família desde muito cedo. A primeira vez foi com minha avó materna, que descobriu e morreu de câncer no intestino aos 62 anos. Eu tinha 19. Seguindo-se da minha mãe, que teve câncer de mama e conseguiu tratar em tempo. Passados alguns anos uma irmã de minha mãe morre de câncer de mama, 2 meses depois minha mãe morre depois acidentada pois estava com osteosporose, cinco meses depois outra irmã de minha mãe morre de câncer de mama, e após alguns anos perdemos mais um irmão e uma irmã da mãe todos vítimas da doença.
Minha mãe teve câncer de mama, estive ao lado dela corajosa como uma leoa. Aliás sempre fui uma leoa quando se tratava de cuidar de doentes, cuidei de marido, filho, pai, mãe e irmã, todos com doenças sérias. Também já havia passado por alguns problemas de saúde, mas sempre tirei quase de letra. Uma certa vez tive uma hemorragia interna, mas fui salva a tempo, e quando saí da UTI o médico me falou que "eu deveria ter uma missão para cumprir aqui na terra por isso São Pedro não me quis". Sempre me questionei qual seria essa missão, mesmo assim me achava forte e guerreira...
A história se repetiu. Era quase uma sentença de morte.Quando o médico me deu a notícia que eu tinha um carcinoma ductal malígno, a primeira reação que tive foi dizer: meu filho não pode saber. Ele me disse que todos teriam qua saber pois seria necessário cirurgia, quimioterapia e radioterapia, e a cirurgia estava marcada para 8 dias depois. Eram meio dia. Saí do consultório chorando, vaguei pela cidade, fui a igreja, metade da tarde me dei conta que teria de voltar ao trabalho, mas nada produzi.
Entrei em pânico, aquela leoa virou um coelhinho morto de medo. Achei que a grande missão era essa e que a morte estava perto. Quase morri literalmente de medo!! Medo da doença, de hospitais, clínicas, dos outros doentes, dos casos sobre a doença. Medo de morrer, medo de faltar ao meu filho, à família, do que poderia ocasionar ao meu pai com 86 anos. O medo trancou-me em casa sozinha por 3 dias. Tinha a impressão de ter feito algo errado e sem conserto.
Mudaram-me para casa de minha irmã para que ela me cuidasse. Depois da cirurgia, ele fez uma quadrantectomia [retirada parcial da mama] que ajudaria do ponto de vista estético e emocional, eu não queria fazer as quimioterapias, mas convenceram-me "era para meu bem". Simplesmente esqueceram de avisar que: você sente medo, raiva, dor, desespero, angústia, tristeza, ódio, rancor, depressão; teria que fazer outra cirurgia para implantar um catéter; minhas veias iriam secar e a cada 20 dias teria que fazer um exame de sangue e para tirar o sangue iria ser uma luta; você fica superagressiva; você não consegue dormir; fica com a boca cheia de feridas; não sente gosto da comida; seus dentes vão se derretendo como se fossem de leite; o estômago fica tão inchado que você não consegue sentar; vomita por qualquer coisa; sente nojo da comida que a vizinha está fazendo; tem diarréia o tempo todo; não consegue segurar a urina; tem desejos como uma grávida; fica inchada como se tivesses prestes a parir; suas unhas caem; todos os pelos do corpo caem e além do desespero de ficar sem cabelos enfrenta todos os tipos de alergia, você luta para não ficar sem cabelos; tem dor nos braços como se tivesse carregando 50 kg cada lado; sua pele fica seca como se nunca tivesse visto um creme;você chora escondido de medo de morrer e de dor; você chega a fazer os cálculos dos anos prováveis que lhe restam e o sofrimento do tratamento - se vale a pena-; as radioterapias são feitas em um único lugar onde encontramos um grande número de pessoas com a mesma doença e diferentes saberes e entra em pânico pois espera duas horas para levar uma queimada de 15 minutos; as radio não dão reações mas queimam durante dois meses transformando seu peito em bolhas é tão forte que os pelos das axilas não crescem mais; enfim que você sente-se um fantasma com dores por tudo.
Fiz a químioterapias com um enfermeiro que me ajudou demais. É uma clínica que atendia pelo meu convênio: superbonita, no alto da cidade, com TV e vídeo individual. Eram pequenas coisas que ajudam. Conversar com meu médico me fazia bem, mas eu via que ele nunca me contava tudo e isso me deixava sempre em alerta.
E a cabeça? Bom essa ninguém se preocupa. Venlafaxina, mais um pra dormir e outro para pânico e está resolvido. Será? Tente viver. Uns dias com depressão e outros também. E o pior defeito meu é que rio por fora enquanto choro por dentro.
Consegui superar muita coisa com a juda de minha família, meu filho, minha irmã, meu irmão e meus sobrinhos que não mediram esforços pra me ajudar, no momento que mais me sentia carente; com visita de minhas amigas; com gestos de carinho das vizinhas de minha irmã e até com alguns emails e telefonemas de conhecidos.
Hoje, vivo com medo de não estar curada, medo da doença voltar em outro lugar, medo de viajar e ficar doente, medo de não ter quem me socorra, medo de Morrer...

5 comentários:

  1. Oi, Dina, é dolorido ler tudo por que vc passou. Tenho uma amiga muito querida que tirou o seio há uns meses, já passou pela quimio, pela radio e espera o que ainda está por vir. Por algum milagre de Deus, ela não teve quase nada de reação em nenhuma das duas séries de tratamento, apenas os cabelos caíram. Sempre digo a ela que tem de agradecer a Deus todos os dias por isso, por ter sido poupada de mais sofrimento.
    Tenho certeza de que vc é bastante forte pra superar tudo e começar vida nova de agora em diante.Ainda mais com a ajuda do Bruno, lindo demaissssssssssss!!!!
    Muita luz pra vc! E obrigada por me seguir.
    Bjssssssssssss

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  2. Dina...vendo o q vc escreveu, sinto q sou sua fã mais ainda...e se eu tivesse sua coragem, n estaria aq, choramingando pelas minhas mãos...sei q logo terei q operar a outra tb...e espero ter a sua coragem e vontade de viver.
    puxa, menina...sua vida e um chacoalhao daqueles p eu acordar...e sim, a venlafaxina ja fes parte da minha vida tb, e muitos outros...mas nenhum deles fez o q uma amizade pode fazer...receber e dar amor.
    Te adoro, amiga! Obrigada por fazer parte da minha vida!
    Claudinha - londrina PR

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  3. Minha mãe tem 50 anos e enfrente um cancêr de mama, desde Janeiro deste anO.Meu nome é Nathaly, Tenho 19 anos, moro com a minha mãe e tenhO uma filha de seis meses.
    Logo quando descobrimos a doença da minha minha mãe eu estava gravida, eu sofri muito, pois sou totalmente dependente da minha mãe, Pois ela é como você mesmo falou uma Leoa, tem sido dificil, mais ela está reagindo muito bem ao tratamento,amis eu sinto muito medo, sofro muito ao pensar no pior. PoiS tenho um irmão ainda pequeno que tbém depende dela de 13 anos. Meus pais são separados!
    Fiquei muito emocionada ao ler sua historia, pois tem muito em comum com a da minha familia,perdemos quase todos da mesma doença.
    Por favor gostaria muito de falar mais com vc. Me add no meu msn: eure_nathaly@hotmail.com

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  4. Amiga, leoa é pouco. És uma heroína ao enfrentar essa guerra quase desumana pela vida. O importante é que és uma vencedora e não é qualquer matungo que vai te derrubar do lombo. Não foi só Anita Garibaldi, SC continua a produzir mulheres de muita fibra e tu és uma prova viva e exuberante disso. São Pedro ainda vai ter que esperar muito tempo.

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  5. Oi Dina,
    Lendo o seu depoimento,posso imaginar o sofrimento q você está enfrentando,e te digo acredite em Deus ele é um pai maravilhoso,e tenho certeza que ele ñ abandona seus filhos e você com a força que tem vai vencer todos os desafios que a vida lhe colocar.
    Coragem e força é o que te desejo.
    Um abraço. Regina Belém/Pá

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